Um breve relato ocupacional

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CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL E EXPOSIÇÃO HUMANA AO MERCÚRIO NA BAIXADA SANTISTA

 

Um breve relato ocupacional em indústria de cloro-soda:

17 anos de trabalho na fabricação de soda/cloro foram suficientes para presenciar o vale tudo pelos recordes de produção em detrimento do Meio Ambiente e da Saúde Humana.

O relato que segue é de um trabalhador contaminado por mercúrio que carrega consigo as seqüelas adquiridas no seu local trabalho, e que prossegue sua luta a fim de obter o reconhecimento por parte da empresa do problema que esta lhe causou.

A ACPO, tendo como objetivo o amparo à saúde do Trabalhador exposto e/ou contaminados e a proteção do Meio Ambiente, abre espaço para mais um grave caso de contaminação ocupacional na Baixada Santista.

Ele trabalhou na operação de células de mercúrio metálico, que medem aproximadamente 1m de largura, por 15m de comprimento e 0,60m de profundidade. Estas células são como cubas metálicas com um revestimento lateral de borracha especial (ebonite).

No interior dessas cubas são depositados aproximadamente 1295 quilos de mercúrio metálico que funcionam como catodo dentro de um sistema de fabricação denominado eletrolise, impulsionado por uma corrente continua da ordem de 240 V e 160.000 Ampéres.

Cada célula (num total de 60 cubas), tem um abastecimento contínuo de salmoura (NaCl + H2O), que após a ação da corrente elétrica (eletrolise) dá origem a uma produção de aproximadamente 5,6 toneladas de soda/dia (NaOH) e 5,0 toneladas de cloro/dia (Cl2).

Esse tipo de processo (células a mercúrio) produz um tipo de soda mais barata, mas como diz o ditado, o barato sai caro, e este processo não foge a regra, pois provoca uma perda muito grande de mercúrio para o Meio Ambiente provocando vários problemas não só de ordem ambiental mas também problemas graves de saúde pública, sobretudo as de ordem ocupacional.

O mercúrio em contato com solo se mistura e se fragmenta favorecendo assim a formação de vapores que são transportados livremente pela atmosfera levando-os a se condensarem em locais mais frios longe do local original, enquanto a maior parte se infiltra no solo a vai atingir e contaminar o lençol freático e os rios.

Segundo o relato até os anos 80 não havia sistema de recuperação do mercúrio metálico, ou seja, os resíduos da área de tratamento de salmoura (mistura de sal e água) e das células de mercúrio eram despejados diretamente no meio ambiente. Este tipo de operação era constante e foram tantas as vezes que isso ocorreu que se torna impraticável fazer o cálculo da quantidade de mercúrio metálico que foi despejada no solo e no rio Cubatão.

O relato termina com uma notícia boa e algumas ruins: em março de 2001, após um trabalho de 40 anos de descontaminação, a baía de Minamata foi liberada após três anos consecutivos de minuciosas e rigorosas análises que indicaram a recuperação da Baía.

Então fica a lição e a pergunta: Quantos anos de trabalho de descontaminação de mercúrio e POPs foram empreendidos nos rios da Baixada Santista, sobretudo nos rios da cidade de Cubatão? Quantos casos de saúde relacionados ao mercúrio e aos POPs foram registrados na Baixada Santista, sobretudo nas comunidades vizinhas aos rios contaminados de Cubatão? Você saberia responder a estas perguntas? Quais foram as políticas de saúde pública do nosso País aplicadas nesse caso, ou será que o lobby dos grandes conglomerados multinacionais foram capazes de engessar todos os escalões do poder executivo do nosso País?

 ACPO

Existem mais segredos entre o despejo de mercúrio e a Baixada Santista do que pode imaginar a nossa vã filosofia.

Vazamento de Mercúrio

Vazamento de mercúrio metálico durante o processo de fabricação de soda e cloro