O contato do homem com o mercúrio, remonta desde as civilizações orientais antigas, que já manipulavam o metal, tendo sido também encontrado no interior de tumbas egípcias. Anterior a era cristã, os chineses usavam o sulfeto de mercúrio, na produção de tintas e pinturas, dominando o processo da redução do sulfeto a metal. Com o advento da Revolução Industrial e a difusão do uso do mercúrio em várias atividades humanas, presenciou-se um grande aumento nos níveis de mercúrio no meio ambiente global. Os efeitos toxicológicos do mercúrio são conhecidos há muito tempo, porém algumas condições não foram antecipadas, suas características físicoquímicas como a volatilidade à temperatura ambiente, persistência ambiental além do efeito acumulativo que pode refletir negativamente na saúde dos seres vivos muito tempo depois de cessado à exposição, conferem a este metal grande mobilidade, capacidade de proliferação sendo enquadrado como um poluente de elevada toxicidade.
As características físico-químicas do mercúrio fazem com que este metal seja considerado como um poluente de elevada toxicidade. Além de poder afetar extensas áreas muito distantes, seus efeitos podem surgir somente após longo tempo de cessado seu uso, adquirindo assim um caráter defasado no espaço e no tempo. Esta peculiaridade é muito importante, sobretudo em ambientes tropicais, onde as características ecológicas intrínsecas desses ecossistemas, como a rápida e eficiente ciclagem interna dos elementos, os tornam muito vulneráveis a poluentes como o mercúrio.
O mercúrio é o único metal que se mantém em estado líquido e é volátil à temperatura ambiente, pois seu ponto de fusão é de -38,87°C. Por ser uma substância de difícil manipulação apresenta característica daquelas substâncias tidas como incontroláveis pelo homem dentro das diversas atividades humanas, tornando-se assim um veneno em movimento que causa diversas doenças crônicas. O mercúrio pode correr diretamente para os cursos de água alojando-se no fundo dos lagos rios e baías por períodos muito longos, pois está protegido pelo espelho d’água, e assim da ação física do tempo, pode também durante a manipulação ou despejos volatilizar para atmosfera e condensar novamente na superfície do solo ou cursos de água por força das chuvas ou das baixas temperaturas das camadas altas da atmosfera.
Livre no ambiente uma grande parte do mercúrio é absorvida direta ou indiretamente por plantas e animais aquáticos, iniciando o processo de “bioacumulação”. Esse processo provoca a concentração de mercúrio em quantidades cada vez maiores nos animais imediatamente acima na cadeia, até atingir o topo da cadeia alimentar, assim os seres humanos acaba recebendo a maior carga química tóxica no final desse processo acumulativo denominado “bio-magnificação”. O mercúrio bio-acumula nos tecidos dos seres vivos. A atividade dos microorganismos e outros processos contidos no ambiente, lagos, rios e oceanos convertem o mercúrio metálico em mercúrio orgânico, a forma mais tóxica e letal do mercúrio, nesta forma poderá haver absorção diretamente pela pele podendo causar estado de inconsciência, movimentos involuntários, degeneração das células do cérebro, atrofiamento e degeneração do sistema nervoso, falta de sensibilidade dos membros e dos lábios, distúrbio das funções motoras, fala inarticulada, campo de visão alterado, defeitos congênitos.
As principais formas químicas do mercúrio que acarretam problemas a saúde dos seres vivos são: Hg elementar (metal puro – Hg), compostos inorgânicos (cloreto de Hg – Hg Cl) e compostos orgânicos como o metil-mercúrio (CH3 Hg+). Estudos têm demonstrado que 80% dos vapores do mercúrio puro elementar inalado é retido pelo organismo e sofre completa absorção pelas membranas alveolares, uma grande parte do vapor inalado permanece na corrente sangüínea podendo de alguma forma atravessar as barreiras hemato-encefálica e placentária. O caso nefasto envolvendo o mercúrio mais conhecido certamente é o acidente na baía de Minamata no Japão, onde 46 pessoas morreram e centenas de outras foram intoxicadas pelo metal, que correram para baía lançado pela empresa Nippon Chisso Hiryo produtora de químicos sintéticos. Quatro décadas e 48 bilhões de Ienes, foram necessárias para que o Tribunal de Tóquio condenasse a empresa a indenizar vítimas e para que a baía de Minamata apresentasse sinais de recuperação através de incessantes trabalhos de despoluição. Razão pela qual, cada vez mais se fortalece a tese do “Princípio da Precaução”.
Referências:
1) Volney de M. Câmara, Alexandre P. da Silva, Luiz Augusto C. Galvão
2) Workshop Avaliação Global do Mercúrio – São Paulo – Brasil – 20 e 21 de fevereiro de 2002. A Influência da Indústria de Cloro-Soda na Baixada Santista – Visão do Trabalhador – ACPO – Associação de Combate aos POPs, ACPO – Associação de Consciência à Prevenção Ocupacional, Signatária do BAN MERCURY WORKING GROUP